segunda-feira, 13 de novembro de 2017

The Woman Who Knew Too Much - Raquel Matos

Cinema Sem Lei: Qual é o teu filme favorito?
Raquel Matos: Pierrot le fou.

CSL: Ainda te lembras o que te levou a querer ver o filme pela primeira vez?
RM: Foi através do tumblr que descobri o filme. Já não sei precisar ao certo quais os frames/gifs que me despertaram a curiosidade, mas sei que foi através daí que descobri o Pierrot le fou e, por conseguinte, o Godard.
Portanto, aquilo que me captou à primeira vista foi o diálogo, o cenário e as personagens.

CSL: Tendo em conta que descobriste o teu filme preferido pelas redes sociais, qual a importância destas para a tua descoberta do cinema? Continuas a ver filmes porque gostas de alguma frase ou gifs?
RM: As redes sociais podem ser muito úteis no que toca a recomendações e opiniões, desde que tenhamos um certo "filtro". Posso dizer que, de facto, o tumblr e algumas páginas que sigo, foram a porta de entrada no mundo do cinema. Mas claro que a partir de um certo momento, a procura começa a estar dependente de nós. O Pierrot le fou abriu-me a porta para o trabalho do Jean-Luc Godard que, por sua vez, abriu porta para o movimento da nouvelle vague e quando damos por nós já estamos envoltos numa espiral de filmes e realizadores. Pelo que, as redes sociais podem sim ser úteis e dar-nos um certo guião do que procurar, mas claro que o nosso sentido crítico é o último critério.

Pierrot le fou (1965) - Jean-Luc Godard

CSL: Uma vez que temos falado em Godard e nouvelle vague, tens noção da importância desta época para o cinema? Interessa-te o que está para além da câmara ou ficas-te mais pelos filmes?
RM: Sei que este movimento marcou uma nova geração no cinema francês nos anos '60 e que foi um marco na transição de um cinema mais realista para aquilo que quase se pode considerar um cinema "anarquista", que não obedece a regras e que se preocupa com as personagens (a sua sensibilidade, o seu íntimo, o seu quotidiano) e na forma como isso influencia o enredo, do que propriamente numa narrativa. Foi importante também na inovação que trouxe, por exemplo: o falar com a audiência, os cortes súbitos, a paleta de cores, os títulos. Estes dois últimos, principalmente, assumem um destaque importante, devido à mensagem subliminar que pretende transmitir. O vermelho era associado a duas coisas: sangue ou à esquerda política. As frases e imagens, que subtilmente e aleatoriamente vão aparecendo no cenário do filme, traduzem-se em ideais, quer sejam políticas, quer filosóficas ou um mero expressar de uma opinião. Tudo isto acaba por contribuir para uma certa unidade e ordem naquilo que, à primeira vista, se pode considerar o caos e um cinema sem regras. Aquilo que parece não fazer sentido, faz sentido, mas primeiro é necessário descodificar, encaixar as peças do puzzle (explícitas e implícitas).
E por isso, não é exclusivamente o filme em si que conta, mas também aquilo que está para além da câmara. Um filme é uma influência disso mesmo, muitas vezes é necessário estar atento aos pequenos pormenores para as coisas fazerem sentido para nós. Uma ideia parte sempre de um certo contexto e não propriamente numa narrativa e no simples contar da sua história.

CSL: Já viste documentários sobre a época? Parece-me (e é apenas uma opinião) que nunca foram tão felizes a filmar e criar. Era um ambiente efervescente.
RM: Infelizmente documentários ainda não tive a oportunidade de ver, mas apesar disso, é notório e transparece para o público esse fascínio de se estar a explorar territórios desconhecidos (que por sua vez são arriscados, mas livres) bem como a camaradagem e a partilha de ideias entre a nova comunidade de cineastas que começava a surgir.

CSL: Tens preferência por filmes antigos ou recentes? Ou simplesmente por bons filmes?
RM: Talvez tenha uma queda por filmes mais antigos (pela sua simplicidade, profundidade e uma certa nostalgia) mas sobretudo, claro, bons filmes! E reconheço que ainda os há, desde que os saibamos procurar e não nos deixarmos levar pelos "populismos" e "facilitismos". . O Amour do Michael Haneke, o Gone Girl do David Fincher, o Interstellar do Christopher Nolan, o Moonrise Kingdom e o The Grand Budapest Hotel do Wes Anderson, são excelentes exemplos disso. E já me estava a esquecer do Her!

CSL: Algum realizador da actualidade que aprecies particularmente?
RM: O David Fincher e o Wes Anderson, talvez. Mas no que toca a filmes mais recentes tenho procurado mais pelo filme em si, do que pelos seus realizadores. Claro que há certos nomes que já tenho como uma referência pelo que, quando sai algum, já fico de olho neles.

CSL: Consideras-te mais fã de cinema europeu do que americano? E se sim, porquê?
RM: Sou mais fã do cinema europeu (francês, italiano, sueco) do que propriamente do cinema americano. Reconheço, claro, que o cinema americano abriu muitas portas e que foi fulcral na elevação do cinema à sétima arte, todavia, além de considerar o cinema americano, em parte, estagnado, também se tornou um tanto ou pouco comercial, com o seu principal foco, ao que me parece, nos filmes de acção. Isto leva a que o cinema europeu seja, em parte, ofuscado e que não lhe seja reconhecido o devido mérito. Tal pode ter como consequência a tentação de "copiar" o cinema americano, tendo em vista a mobilização do grande público e da obtenção de lucros. Uma vez li algures que: "o problema do cinema americano é não ter ideias, e que o problema do cinema francês é não ter dinheiro." É verdade que os orçamentos de filmes europeus são mais baixos o que se pode mostrar um entrave, no entanto, e a prova disso são os filmes mais antigos, quando espremido, o relevo do filme está na sua ideia, na criatividade, mensagem, direcção e organização, e nisso o cinema europeu ganha. Até podemos ter um filme muito caro, mas se este não tiver conteúdo será que podemos verdadeiramente dizer que estamos perante um filme? Não será apenas uma forma cara de entretenimento?

CSL: A frase é do Godard.
RM: É? Já não me lembrava que era dele, está tudo interligado. Só podia.

CSL: Há algum género pelo qual não tenhas particular interesse?
RM: Não aprecio filmes de terror, de comédia e musicais.

CSL: Consegues explicar porquê?
RM: Não aprecio filmes de terror porque não gosto do tipo de adrenalina que desperta em mim. Acho até um bocadinho masoquista o estar a despertar a sensação de medo para o meu suposto divertimento - isto, claro, quando mistura muito suspense. Apesar de saber, obviamente, que se trata se ficção.
Quanto aos filmes de comédia e musicais, tratam-se de géneros que, pessoalmente, não aprecio. Os musicais porque me irritam um bocadinho, sendo sincera. E a comédia, no seu puro sentido, simplesmente porque não me atrai. No entanto, gosto de filmes com um certo travo de comédia, mas de uma maneira um bocadinho mais subtil talvez.

CSL: Já viste o The Apartment (1960)? É a minha comédia preferida. Precisamente por ser muito mais do que uma comédia. Os filmes do Billy Wilder normalmente são assim
RM: Por acaso como fujo um bocadinho desse género, acaba por ser uma área que eu não exploro.

CSL: Qual foi o último filme que viste no cinema que valeu mesmo o dinheiro do bilhete?
RM: O último filme que vi no cinema foi o Mother! E apesar de fugir um bocadinho do meu estilo, e de ter sido bastante criticado, confesso que achei o filme muito bem feito e aberto a diversas interpretações. É um filme que prende o espectador ao ecrã e ao desenrolar da história visto que se trata, maioritariamente, de um filme de suspense/mistério.

Mother! (2017) - Darren Aronofsky

CSL: O que te levou a escolher esse filme? Realizador, actores, critica?
RM: Foi um conjunto de ambos os critérios. O realizador - Aronofsky - realizador também do Black Swan. O elenco com a Jennifer Lawrence. E uma breve revista às críticas feitas. Em termos de comparação com os restantes que se encontravam em exibição, este foi o que mais (para não dizer o único) me cativou.

CSL: Para terminar:
- um filme que te emocionou;
- um que te fez rir;
- um que mudou a tua vida;
- um que vale a pena rever todos os anos;
RM: - Um filme que me emocionou foi, sem dúvida, o Autumn Sonata do Ingmar Bergman;
- Um que me fez rir: Une femme est une femme do Godard;
- Um que mudou a minha vida (e fazendo jus ao que foi dito): o Pierrot le fou;
- Um para rever todos os anos: o Her do Spike Jonze

Raquel Matos
21 anos
Último ano do curso de Direito



0 comentários:

Enviar um comentário