sábado, 11 de novembro de 2017

Cinema Paraíso: Luís Neiva - Rosemary's Baby (1968)

Rosemary’s Baby

País: EUA
Ano: 1968
Realizador: Roman Polanski
Argumento: Roman Polanski (a partir do romance de Ira Levin)
Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sydney Blackmer

Um jovem casal muda-se para um apartamento no centro de Nova Iorque: Guy (Cassavetes) – um ambicioso actor à espera do papel certo que o levará ao estrelato – e Rosemary (Farrow), uma frágil, mas optimista, jovem completamente apaixonada pelo marido e com quem sonha ter um filho. O destino sorri-lhes: rapidamente se tornam amigos de um idoso casal de vizinhos (Gordon e Blackmer), que apesar de metediços se revelam extremamente prestáveis. Guy consegue finalmente a tão desejada oportunidade e Rosemary descobre que está grávida. Contudo, a gravidez acaba por trazer complicações inesperadas e Rosemary começa a recear uma conspiração com contornos sobrenaturais que pode colocar em risco a vida do seu bebé.

Rosemary’s Baby é, sem dúvida alguma, um dos mais influentes filmes de terror da história e, ao mesmo tempo, um exemplar muito especial dentro do género por serem practicamente inexistentes os momentos de gore ou os tão característicos jumpscares. No entanto, isto não lhe retira qualquer impacto graças a uma majestosa realização de Roman Polanski, que é capaz de criar uma atmosfera extremamente envolvente e, acima de tudo, repleta de ambiguidade.

Esta atmosfera é instalada desde o primeiro momento do filme, durante o genérico, na melodia sombria, mas algo familiar, entoada por Mia Farrow. A natureza desta melodia não é clara, mas o facto de ser recuperada em alguns momentos-chave do filme, como quando Rosemary descobre que está grávida ou quando sente o primeiro movimento do bebé, sugere-nos que a função deste motivo é mais do que simplesmente introduzir o espírito do filme. De facto, na última cena torna-se claro que a tão misteriosa melodia é, na realidade, uma canção de embalar, símbolo de comunhão entre a personagem principal e as forças que inevitavelmente vencem a batalha.

Polanski toma algumas decisões curiosas no que à construção das personagens diz respeito: durante a primeira secção do filme as personagens são desenvolvidas até à exaustão, o que lhes confere uma empatia bastante forte crucial no clímax final. Passamos a simpatizar com Rosemary, uma protagonista atipicamente débil, que se refugia no vanguardista corte de cabelo pixie como tentativa desesperada de assumir uma aparência forte e independente, mas que apenas acaba por tornar mais óbvia a sua fragilidade. Tal ligação é reforçada pelo facto de o enredo se revelar aos nossos olhos ao mesmo tempo que aos da jovem – até à cena final nunca é verdadeiramente claro o quão real é todo o lado místico do filme e facilmente damos por nós a pôr em causa tudo aquilo que nos parece lógico.

Importante também referir o espaço, que em Rosemary’s Baby assume uma autêntica qualidade de personagem. Sendo este o segundo filme da chamada “Trilogia do Apartamento” – série de filmes realizados por Polanski maioritariamente filmados no interior de uma casa – a atmosfera visual e sonora da habitação é, em si mesma, um prolongamento da já falada ambiguidade construída pelo realizador polaco. O apartamento, apesar de contar com um passado algo sinistro, é transformado por Rosemary num iluminado e agradável lar. Contudo, à serenidade proporcionada pela decoração do espaço é contraposta a inquietante sensação de que algo ou alguém nos está constantemente a observar – a sufocante presença dos vizinhos, o ansioso tic-tac do relógio em muitas cenas e o recorrente som de um piano vindo de um apartamento próximo são elementos que contribuem para que um sentimento de claustrofobia tome conta da cena.

Uma breve referência para o magnífico trabalho de representação de todo o elenco, com especial menção para Ruth Gordon, justa vencedora do Óscar de Melhor Actriz Secundária por tão inspirada performance.


Por tudo isto, não é surpresa que clássicos como The Exorcist ou a trilogia The Omen tenham na sua génese esta obra prima de Polanski. Ainda assim, a originalidade do realizador polaco confere a Rosemary’s Baby uma intemporalidade a que poucos filmes de terror podem aspirar.

8/10


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