quarta-feira, 8 de novembro de 2017

The Man Who Knew Too Much - Luís Neiva

Cinema Sem Lei: Qual é o teu filme favorito?
Luís Neiva: Muda todos os dias! Mas o que mais me marcou foi o Pulp Fiction, e é aquele que mais vezes revisito, quando quero ver algo bom.

CSL: O que é melhor nesse filme? Banda sonora, actores, diálogos, plot?
LN: No filme em si, os diálogos, provavelmente. Mas é difícil dizer quando tudo na realização está tão bem feito. Adoro a maneira como o Tarantino escreve e como baseia todo o filme a partir do guião. O resto funciona quase sozinho (se os actores forem bons, é claro).
Por outro lado, respeito imenso o impacto que teve no mercado cinematográfico americano. Fazer um filme independente naquela altura em que os estúdios sugavam tanta criatividade requer um tipo muito especial de talento.

CSL: E de personalidade. Achas que a ligação com o caso do Weinstein pode prejudicar a carreira dele?
LN: Não diria. Hollywood tem memória muito curta.

CSL: Woody Allen está agora a fazer um filme controverso tendo em conta o momento e, principalmente, a história dele. Por falar no Allen, comédias dizem-te alguma coisa?
LN: Sim. Mas tenho uma preferência clara para as "clássicas", desde os filmes do Chaplin e do Keaton até à slapstick das décadas de 50 e 60.

CSL: Bom tema: Chaplin vs. Keaton. Em última análise, qual escolherias?
LN: A pergunta do milhão de dólares... Adoro coisas diferentes em ambos. O Keaton tem um tipo de humor mais físico, mais corajoso até. O Chaplin joga mais com as emoções humanas e com uma crítica social que eu considero simplesmente brilhante. Penso que talvez me decidisse pelo Chaplin.

Charlie Chaplin em City Lights (1931)

CSL: Eu ia para o Keaton. As coisas que ele fazia deixam-me de boca aberta. A cena do comboio a cair no rio é fantástica
Já que estamos numa de "batalhas", De Niro vs. Al Pacino. Tens resposta?
LN: Sim! O Keaton revolucionou imenso o aspecto técnico do cinema!
Estava na dúvida até ter visto o Dog Day Afternoon. A partir desse momento, o Al Pacino "ganhou-me". São dois gigantescos actores, embora me entristeça um bocado quase não ver o De Niro em grandes filmes actualmente.

CSL: Vem aí um com o Scorsese. Se me entusiasma ver o De Niro, Joe Pesci e Scorsese juntos, também tenho receio que vá cair quase numa paródia dos seus tempos áureos.
LN: Sim... Ultimamente a moda é fazer remakes e sequelas fora de tempo com qualidade, muitas vezes, duvidosa. Temo que esse filme siga essa onda. Mas se o Scorsese está à frente do projecto, acredito que seja capaz de evitar isso. O talento está lá, nenhum deles se esqueceu de representar.

CSL: Qual é, na tua opinião, a década dourada do cinema?
LN: Sem sombra de dúvida, as décadas de 40 e 50. Pelo menos em Hollywood.

CSL: Consegues aconselhar dois ou três filmes que valem a pena ver dessa época?
LN: Acho que o Citizen Kane e o Vertigo são obrigatórios por marcarem, na minha opinião, o início e o fim de uma era. Ainda há o Sunset Blvd. que é o meu noir preferido e embora seja já de 1961, o Judgment at Nuremberg que é um dos filmes da minha vida.

CSL: O que tem para considerares um dos filmes da tua vida?
LN: Pergunta difícil. Acho que há filmes que marcam, e isto é especialmente verdade quando se vêem muitos grandes filmes. Depois de ver centenas de obras primas seguidas quando vem um filme que se eleva acima de todos os outros e que cria em mim uma resposta emocional tão forte (como é o caso do Judgement at Nuremberg), é sinal que estou na presença de algo realmente especial.

CSL: Qual é o teu objectivo quando vês um filme?
LN: Gosto de ser surpreendido. Tento saber sempre o mínimo sobre cada filme que vejo, não vejo trailers, não leio sinopses. Óbvio que se aprende sempre alguma coisa com tudo o que se vê, se tiver qualidade, mas não é algo que procure activamente, simplesmente acontece.

CSL: De onde surgiu o teu interesse pelo cinema?
LN: Sempre gostei imenso de cinema, mas acho que me tornei cinéfilo no dia em que vi a Laranja Mecânica. O tipo de resposta emocional (e até física) que o filme me provocou, criou em mim uma obsessão de procurar mais vezes aquela sensação. É mesmo um vício. Mas dos bons!

A Clockwork Orange (1971) - Stanley Kubrick

CSL: Se tivesses oportunidade de trabalhar em cinema, em que área gostavas de trabalhar?
LN: Na realização. É o que mais valorizo em todos os filmes que vejo. Se fosse fora do processo de criação, por assim dizer, tenho um certo fascínio pela crítica cinematográfica.

CSL: Já apostaste na crítica? Escreves para algum lado?
LN: Tenho algumas críticas escritas mas nunca publiquei em lado nenhum. Faço parte de um fórum de cinéfilos em que a maioria dos membros é dos Estados Unidos e partilhamos muitas vezes as críticas que escrevemos uns com os outros, e eles são as únicas pessoas que já as leram.

CSL: A tua formação é musical, certo?
LN: Sim, sou licenciado em Canto e estou agora a concluir um Mestrado.

CSL: Qual é a importância da música num filme?
LN: É imensa. A principal característica que difere a música das outras formas artísticas é a sua propriedade de imediaticidade. A imagem tem de ser sempre interpretada antes de criar uma resposta emocional enquanto a música salta esse passo à frente. Tem a capacidade de potenciar ou anular tudo o que se passa no ecrã e muitas vezes criar efeitos opostos àquilo que percepcionamos visualmente. Lembro me sempre da cena do Stuck in the Middle With You do Reservoir Dogs.

CSL: Segunda referência ao Tarantino. É o teu realizador favorito?
LN: Não. Adoro tudo o que ele fez até ao Kill Bill 2, depois disso foi um.bocado hit and miss. O meu realizador favorito é o Kubrick.

CSL: 2001? É o que tem sido mais mencionado nestas conversas que estou a ter.
LN: Acho que a partir do momento em que ele se muda para Inglaterra em 1960, tudo aquilo que fez é ouro. O 2001 é sem dúvida incontornável e um dos meus filmes preferidos mas é difícil eleger um favorito. Talvez o Barry Lyndon ou a Laranja.

CSL: E da nova geração, algum realizador/a te chama a atenção?
LN: Não sei se se podem chamar nova geração, mas gosto muito do Aronofsky e do Almodóvar. E há um realizador de que falo sempre por ser quase desconhecido do público português e de quem gosto imenso que é o José Vieira. Um emigrante português em França, que faz documentários, muitos deles sobre a temática da emigração.

CSL: Tens sugestões de documentários? Não necessariamente do José Vieira.
LN: Do J. Vieira há um filme que eu adoro que é o Souvenirs d'un Futur Radieux. Também recomendo o Nuit et Brouillard, Die Macht der Bilder: Leni Riefenstahl, Olympia, Exit Through the Gift Shop, Baraka, Dear Zachary: A Letter to a Son About his Father.

CSL: Para terminar:
- um filme que te emocionou;
- um que te fez rir;
- um que mudou a tua vida;
- um que vale a pena rever todos os anos;
LN: - All Quiet on the Western Front
- Bringing Up Baby
- Naked
- C'era una Volta il West

Luís Neiva
26 anos
Mestrado em Música (canto)



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