terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Plan 9 from Outer Space vs. The Room

Qual é o pior filme de sempre?

The Room está novamente em alta depois de James Franco trazer The Disaster Artist para o cinema. Pareceu-me então pertinente tentar responder à pergunta "Qual é o pior filme de sempre?". E nada melhor do que uma breve análise pegando nos dois filmes que mais vezes levaram este rótulo: Plan 9 from Outer Space (1959), de Ed Wood e The Room (2003), de Tommy Wiseau.

Argumento

Plan 9 from Outer Space

Extraterrestres atacam o planeta Terra através do "Plano 9", que consiste em ressuscitar mortos transformando-os em zombis que posteriormente atacam os humanos.

The Room

Johnny vive com a sua noiva Lisa em São Francisco. Entediada com a vida que leva e querendo mais do que a vida economicamente confortável, Lisa trai Johnny com o seu melhor amigo, Mark.

Em Plan 9 temos um argumento claramente de série B. Ficção cientifica e fantasia, cliché, mas que desperta o mínimo interesse. Já The Room é um episódio de novela. Visto e revisto. Com cenas completamente inúteis e introduzidas no filme só porque sim (quando vão jogar para a rua, p.e.). Só de lembrar que o objectivo seria fazer algo parecido a Tennessee Williams...

Produção

Plan 9 from Outer Space


Cenários pobres e imagens de arquivo são o que saltam à vista neste filme. Os efeitos especiais também são muito pouco convincentes (mas não esquecer que estavam em 1959). Destaque positivo para a roupa e maquilhagem. 

The Room



Dizem que passaram dos 6 milhões. Para Hollywood não é um valor alto, mas é inadmissível esta qualidade de imagem. Até para o The Room. Bastava que não tivessem usado estas imagens na montagem. As cenas de sexo e a nudez são claramente para vender. Guarda-roupa e maquilhagem condizentes com a época (com a excepção de Tommy).

Actores

Plan 9 from Outer Space

As figuras que deviam ser temíveis simplesmente não são. Caem até no ridículo. As personagens que claramente são secundárias (coveiros, p.e.) também são muito fraquinhos. O restante elenco, longe de serem Brandos e Streeps, conseguem ser minimamente convincentes.

The Room

Destaque quase positivo para a sogra (que me lembra a Rosa Lobato de Faria em A Minha Sogra é um Bruxa). O restante elenco, com Wiseau à cabeça é demasiado mau para ser verdade. 

Realização

Plan 9 from Outer Space


O papel do realizador, para além de escolher enquadramentos, é dirigir actores. Neste capítulo, todas as cenas de luta foram dolorosas... Para o espectador. Intensidade zero. A tentativa de camuflar a ausência de Bela Lugosi também é falhada. Em algumas cenas nem tiveram o cuidado de pintar o cabelo de branco. 

The Room



Nada de alarmante, mas básico. Aquela cena de sexo com a água é a tradução de lame no audiovisual.

Fotografia

Plan 9 from Outer Space


Apontamentos interessantes com o fumo. O facto de ser a preto e branco protege-o bastante, mas longe de um Sunset Blvd. (1950).

The Room


Que luz azul e sombras tão naturais!



Com 16 pontos em 80 possíveis (20%), The Room é, para o Cinema Sem Lei, o PIOR FILME DE SEMPRE. 

The Room é tão mau que quase faz de Plan 9 from Outer Space um filme interessante. Em contrapartida e negando completamente o que acabei de dizer, se querem umas horas bem passadas, vejam o filme de Tommy Wiseau. De tão ridículo que é, ficamos completamente agarrados.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Review: The Disaster Artist (2017)

The Disaster Artist (2017)

Confesso que quando comecei a ouvir falar deste filme pensei que seria mais uma comédia com o único objectivo de gozar novamente com The Room (2003). Não, nada disso. The Disaster Artist dá-nos outra dimensão de Tommy Wiseau, uma figura maior do que o seu filme.

Se quisermos comparar podemos dizer que é um filme próximo ao Man on the Moon (1999), que retrata a vida de Andy Kaufman, um génio incompreendido. Não diria que Wiseau seja um génio, mas é mais do que The Room nos deu a conhecer. Sim, é um mau actor. Sim, é um mau realizador e produtor. Mas é muito mais do que aquela figura alucinada. The Disaster Artist é sobre um homem solitário e misterioso que ganhou uma obsessão com a primeira pessoa que lhe deu atenção. É também sobre sonhar e não desistir. Quase chega a ser comovente. Nunca pensei dizer isto sobre um filme do James Franco. Muito menos quando este é sobre um dos piores filmes já realizados.

Tudo isto é categoricamente mostrado por James Franco. Basta ver o The Room ou entrevistas com o Wiseau para perceber que Franco conseguiu transmitir toda a energia (ou falta dela) que Tommy possui. Não deverá chegar para o Oscar, mas também não ficaria chocado se fosse entregue a este. 

7/10

P.S.: Depois dos créditos finais ainda tem uma cena.


sábado, 6 de janeiro de 2018

Review: The Florida Project (2017)

The Florida Project (2017)

The Florida Project é um retrato dos subúrbios americanos. Sean Baker, o mesmo realizador de Tangerine (2015) (o famoso filme que foi filmado com um iPhone 5) levou-nos novamente para o mundo que nos habituou. 

Moonee (Brooklynn Kimberly Prince), uma criança de seis anos, maria-rapaz e líder do seu grupo de amigos, vive com a mãe, Halley (Bria Vinaite), num motel. Não existem regras, as crianças brincam sozinhas na rua sem qualquer tipo de acompanhamento e a mãe consegue ser tão ou mais infantil do que a filha. Vivem uma semana de cada vez, sem projectos e responsabilidades. Todo o filme é tenso. As asneiras das crianças, as melhores amigas que se tornam inimigas ou a necessidade de arranjar dinheiro para não serem expulsas. Para contrastar com tudo isto, bem perto deste motel está a Disney World, o mundo da fantasia onde nada corre mal.

De salientar a excelente escolha de actores. Parabéns para Carmen Cuba, a directora de casting. É o primeiro filme de Bria que está muito convincente, mas é para Brooklynn (segundo filme) que vão todos os olhares. Este papel foi tão natural que não sei até que ponto algumas frases foram puro improviso. Escrito ou não, a pequena actriz deixou-me completamente rendido. Para combater este elenco desconhecido, Willem Dafoe surge como o gerente do motel. Percebe-se a escolha (actor famoso = mais público), mas acaba por ser um corpo estranho no meio daquele elenco. É como se eu quisesse fazer um filme com os meus amigos de infância e chamasse o Ivo Canelas para um papel secundário. Não tenho a mínima dúvida de que o Ivo desempenharia o papel muito bem, mas haveria sempre um "quê" de estranheza.

Deste vez não usaram um telemóvel para filmar, mas o estilo continua lá. Muita câmara à mão, que combina perfeitamente com o filme. No entanto há dois pontos que lamento:
- Não exploraram devidamente o contraste entre a Disney World e o motel;
- O final, que é compreensível, foge completamente ao estilo realista que o filme estava a ter até então. E não estou a falar do argumento, mas sim da maneira como foi editado.

Se são fãs de cinema independente aqui está um bom exemplo. Mas ainda não percebi se aquele final tem força para o tirar do meu top 3 de 2017.

7/10


Review: Get Out (2017)

Get Out (2017)

Get Out é o primeiro filme realizado por Jordan Peele, famoso por participar enquanto actor em comédias de qualidade duvidosa. É por isso de estranhar quando sabemos que um actor deste registo se estreia na realização com um filme de terror. Primeiro problema: o filme não é de terror. Sangue, duas ou três perseguições e jump scares não fazem de Get Out o que estavam a publicitar: "o filme de terror com melhor nota no Rotten Tomatoes" ou lá o que era.

Get Out é um thriller muito bem balanceado entre o suspense e a comédia. Não traz nada de novo a este género, mas engane-se quem pensa que digo isto como algo mau. Nota-se alguma inexperiência em certos enquadramentos e na direcção de actores. O início, com as letras azuis e imagens de florestas remetem para o The Shining (1980), mas as comparações ficam por aí. 

Apesar de previsível manteve-me interessado pelo desenrolar da acção. As actuações estão conseguidas, sem que ninguém se destaque particularmente. No fim fico com a sensação de dever cumprido e que não me importaria de o voltar a ver uns anos mais tarde.

6/10

Este 6 serve como incentivo. Quem nunca ouviu um: "dei-te um 4 para que no próximo período te esforces um bocadinho mais e consigas o 5"?


terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Review: Mother! (2017)

Mother! (2017)

É uma homenagem ao Rosemary's Baby, com pitadas de Misery e um bocadinho da Bíblia? Qual é o objectivo deste filme?

Mother! é uma sucessão de coisas estranhas sem grande explicação. Se até meio reagimos com estranheza, com a expectativa de perceber tudo no fim, a meio percebemos que são apenas coisas a acontecer a grande velocidade, sem como nem porquê. A dada altura senti que estava a ver um filme para adolescentes, onde alguém organiza uma festa em casa dos pais e começam a partir tudo.

Ao contrário do que li na estreia do filme, não acho que as interpretações estejam tão más como descreveram. A Lawrence está um pão sem sal, mas faz parte da personagem.

Acabei o filme com uma única certeza: o jantar do Aronofsky, antes de escrever o guião, foi bifinhos com cogumelos. Tanto os cogumelos como as ervas aromáticas vinham em sacas plásticas com fecho zip.

Se este é o melhor de 2017, o que dizer de Dunkirk ou Three Billboards Outside Ebbing, Missouri.

5/10



segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Review: Three Billboards Outside Ebbing, Missouri (2017)


Three Billboards Outside Ebbing, Missouri (2017)

Chegou a altura do ano em que vemos tudo o que está nomeado para os Golden Globes e, mais tarde, Oscars. Se o tédio matasse, há dois anos teria morrido três vezes ao escolher Joy como o primeiro filme desta lista. Por isso este ano decidi jogar pelo seguro e atribuir esta tarefa a Three Billboards Outside Ebbing, Missouri. O nome do filme pode não ser catchy, mas foi o do realizador que me saltou à vista: Martin McDonagh, o Sting dos realizadores (vão pesquisar fotos do senhor). O mesmo autor de In Bruges (2008). Para quem viu este filme sabe o tipo de humor que está para vir.

McDonagh subiu um degrau neste filme. Conseguiu usar o mesmo humor sarcástico e muitas vezes duro, para contar um verdadeiro drama. Acompanhamos Mildred, a mãe de uma adolescente que foi morta e violada perto da sua casa. Para chamar a atenção das pessoas e autoridades que, na sua opinião, pararam de procurar o culpado, decide usar os três outdoors abandonados (onde a filha foi morta) para causar tal efeito.

Apesar deste pequena sinopse indicar um filme sombrio, os primeiros vinte a trinta minutos são quase exclusivamente dedicados ao humor. Personagens exageradas, situações forçadas... Mas nada disto é incomodativo. Enquando as camadas são reveladas percebemos que estamos perante uma grande obra que é muito mais do que aparenta. Criamos imediatamente uma ligação com Mildred, a mãe desesperada, até percebermos os problemas dos outros. Como diz uma das frases do filme: "O ódio nunca resolveu nada".

Uma vénia para Frances McDormand. Estes papéis caem-lhe que nem uma luva e neste caso é mesmo digna de Oscar. Sobre Woody Harrelson já pouco há a dizer e Sam Rockwell ganhou um fã.

Que bom que é ver um filme que quer ser isso mesmo: filme. Onde a criatividade é colocada em prática, conta-nos algo e entretém. Quero lá saber de como inventaram a mopa, esfregona ou lá o que era aquilo. Sim, David O. Russell, estou a falar contigo!

Resta-me agora seguir atentamente a carreira promissora de Martin McDonagh e pedir que para a próxima trabalhem num poster mais interessante.

8/10